Há duas perguntas nesse mundo cujas respostas eu já me conformei em
nunca obter. Primeiro e antes de mais nada, como o Tiririca foi eleito
deputado federal com mais de um milhão de votos válidos se não há sequer
um brasileiro que assuma ter votado nele. Segundo,
e muito mais pertinente à discussão que aqui se estenderá, como surgiu o
sexo. Vira e mexe me pego brincando de reinventora da roda e pensando
nisso. Teria o sexo surgido como uma brincadeira de criança? Como mera
curiosidade? Seria fruto da falta do que fazer? Teria o homem, enfim,
percebido que coçar o saco não é a melhor coisa a se fazer com suas
partes íntimas? Ou o sexo foi resultado da simples necessidade de povoar
esse mundão?
Seja como for, já ficou pra trás – e todos nós devemos, no mínimo, um
caloroso abraço ao camarada que percebeu como as peças desse
quebra-cabeça se encaixam com maestria. A verdade é que, independente da
inspiração criador na hora da criação, durante muito tempo o sexo foi
considerado mero método de reprodução. Era como arar terra. A mulher
bancava o buraco, e o homem entrava com a estaca. Assim mesmo, sem beijo
na boca, sem suspiros ofegantes, sem chupadinhas, sem massagem nas
costas. Sem sequer abrir o primeiro botão, afinal, não precisava: ela só
tinha que se deitar e levantar a saia. A ele, cabia prendê-la entre as
pernas, abrir a braguilha e ejacular. Assim mesmo, com a mesma magia de
ligar pra um delivery e pedir uma pizza.
Por mais que vocês me chamem de feminista desvairada – crítica exaltada
que ouço frequentemente desde os meus tenros doze anos de idade – eu
digo de cabeça erguida e com toda a certeza do mundo: o lance de o homem
ficar por cima no sexo é cultural. E foi fomentado pela mesma sociedade
que proibiu a mulher de votar até meados dos anos 30 e que hoje diz que
a minissaia e o decote da gostosa do terceiro andar dão margem ao
estupro. Isso é sociologia pura, meus caros. O feminino é o pólo do
baixo, do submisso, da passividade. O masculino, por sua vez, faz o
papel oposto: é o alto, o dominador, a atividade. O meu e o seu corpo
são muito mais do que meros invólucros. São a nossa primeira
identificação – antes de se nascer bonito ou feio, nasce-se homem ou
mulher, portanto, dominador ou dominado. De certa forma, a nossa posição
na escala de poder depende de fatores físicos – internalizamos a dureza
de um pau e a obscuridade de uma vagina e os atrelamos à capacidade ou à
falta dela. A guerra dos sexos é estrutural, meus bens.
De tão incorporada que essa condição está, nós – tanto homens quanto
mulheres – aceitamos que as coisas sejam como são. Que o papai e mamãe, o
sexo sacral, é homem em cima e mulher em baixo. Que o ménage composto
por duas mulheres e um homem é mais bonito e natural. Que ele deve ser
chupado até gozar e que ela, quando chupada, deve encarar isso como um
mero estímulo, um favorzinho. Que o homem que pega muita mulher é
garanhão e que a mulher que pega muito homem não vale um centavo. E que
toda e qualquer tentativa da mulher se igualar ao homem é tosca, forçada
e falta de um bom pau pra chupar ou de um par de bolas pra fazer
malabares.
Mas há uma luz no fim do túnel. Se a tendência dos casais modernos é
dividir a pilha de louça, as contas da casa e as trocas de fraldas, por
que não dividir o comando da cavalaria na cama? Brincar de ora ser o
cavalo, ora ser o cavaleiro. E comandar não é apenas ficar por cima. É
poder compartilhar vontades, guiar as mãos, coordenar os movimentos. É
se permitir sem o medo de parecer pretensiosa. Ou puta. Ou feminista.
Enfim, é sair de baixo.
http://www.casalsemvergonha.com.br/2012/05/30/sai-de-baixo-uma-analise-da-posicao-feminina-na-cama-e-fora-dela/
Eiiita nós! kkk
ótimo domingos, meu amores!
Obrigado por tudo!
Andreh Carvalho
Nenhum comentário:
Postar um comentário