Deve ser tentador repudiar Lady Gaga como “tela ambulante”. Com seus chapéus inspirados por telefones, com sua renda vermelho-sangue e com a audácia de parecer grotesca, ela desafia nossas definições convencionais do sexo feminino e da delicadeza feminina.
Os conjuntos loucos de Lady Gaga, que parecem ter sido criados a partir de um globo de discoteca quebrado, deixam-na mais próxima de um cacto do que de uma rosa.
Aos 24 anos, Lady Gaga foi considerada uma das pessoas mais influentes pela revista Time, com Cyndi Lauper escrevendo: “Ela é algo popular, ela é uma artista. Ela mesma é a arte”.Lady Gaga lota estádios e é a primeira artista que teve quatro sucessos no topo das paradas logo no álbum de estréia. É difícil acreditar que ela teria conseguido tais façanhas – até mesmo com as músicas fáceis de serem lembradas – se ela tivesse se apresentado ao público mundial com seu nome de batismo, Stefani Germanotta, uma loira de aparência comum, mas atraentes, vestindo jeans usados e com pouco batom.
Diferente de outras estrelas em ascensão, Lady Gaga não foi vista entrando descalça em nenhum banheiro de beira de estrada, nem contou ao público o segredo de que ela também gosta de comer brunch de blusão, antes de ter escovado o cabelo. Em vez disso, ela vive a interpretação de sua arte usando uma máscara perpétua, tirando raramente os óculos de sol enormes para atrair olhares curiosos.
Lady Gaga não é a primeira artista a usar uma máscara. O termo grego para “máscara” é “persona”, e as máscaras foram contribuições fundamentais e duradouras do antigo teatro grego, cujos estádios lotados e gosto pela tragédia fazem parte da tradição das atuações ocidentais.
Com as máscaras, os traços faciais eram exagerados, demonstrando felicidade, tristeza e raiva com clareza para a platéia. Quando faziam papéis femininos, os atores da Grécia antiga – muitas vezes, garotos na pré-adolescência, com vozes finas – usavam estruturas de madeira para dar a impressão de terem seios e barrigas (esse é um ponto interessante na comparação, já que alguns acusaram Lady Gaga de ser um homem travestido).
No caso de Lady Gaga, os indicadores externos são ainda mais elaborados: cada movimento dela, que muitas vezes usa calças com lantejoulas e dispositivos técnicos que lançam chamas de suas roupas de baixo, parece levado ao limite absoluto. Quando ela sobe ao palco, não é um membro anônimo do coro. Mas como no teatro grego, os movimentos dela – dentro e fora do palco – são ensaiados e propositais.
Uma “persona” é movimentada por uma agenda a transmitir as palavras e a caracterização que impulsionam uma história. Quem é Lady Gaga quando ela volta ao quarto do hotel, tira os óculos de sol, tira o collant e entra no chuveiro? Isso não parece importar muito. A genialidade de sua criação está em ela ter criado com sucesso uma identidade artística que o mundo está louco para conhecer mais.
Lady Gag diz que foi machucada (como muitos de nós) por ter sido considerada diferente no colegial. Diz querer libertar as jovens fãs, para que encontrem seu nicho no mundo. Ela também já disse que mataria para conseguir o que quer – ser a maior estrela do mundo.
Mas também não importa se Stefani Germanotta acredita mesmo em tudo o que sai da boca de Lady Gaga. Assim como os atores por trás das máscaras na Grécia antiga, ela interpreta uma personagem. E seus fãs continuam assistindo, paralisados, porque eles nuncam sabem o que ela vai fazer a seguir – e porque ela sabe dar um show.
(Por Sarah Treleaven)