quinta-feira, 15 de maio de 2014

'Manifesto por um mundo com mais INTIMIDADE, e menos NOJINHOS'

Tem coisa que é tão tabu que a gente nem tem coragem de dizer o nome. As partes íntimas, por exemplo: ninguém conseguiu inventar nomes que não soem bizarros ou esquisitos do tipo, lado B, perseguida, meninão. Por outro lado, falar os nomes de verdade algumas vezes soa tão inusitado, que parece palavrão. A mesma coisa acontece quando falamos de fazer as nossas necessidades (olha a gente dando nomes aí de novo): volta e meia nos pegamos dizendo algo como “precisei ir fazer um número 2″, ou “tirar água do joelho.” De onde essas expressões surgiram, a gente não sabe – o fato é que estamos precisando dar uma renovada nas nossas nomenclaturas e quebrar esses tabus.
E se tem uma coisa que é mais esquisita do que esses nomes criativos, é o fato delas ainda serem tabus. Sexo, por exemplo, existe desde os primórdios, quando a Madonna nem tinha sonhado ainda em compor “Like a Virgin“. Ainda sim, o tema gera risadinhas desconcertadas e bochechas rosadas quando é trazido em pauta. Todo mundo faz, mas ainda não aprendemos a arte de falar sobre. Um dia a gente chega lá.

A mesma coisa vale para quando vamos fazer cocô (soou estranho?). Todo mundo faz, mas tem gente que acha que pode soar desagradável dependendo do ambiente, por isso continuamos inventando nomes. Aliás, o ato de fazer as necessidades costuma ser um tabu enorme até mesmo entre casais. Já ouvimos vários relatos de pessoas que ficam 2, 3 dias sem ir ao banheiro quando estão na casa do namorado. Rola um medo, sei lá, dele descobrir por exemplo que ela faz cocô (!?) como se ninguém mais no mundo fizesse – nem ele. Ou então dos barulhos. Já criaram até um app que simula barulhos de banho para abafar os sons que podem ser mais altos do que o desejado. Pelo menos essa é uma alternativa econômica pros dias de hoje, de escassez de água. Ninguém vai mais precisar abrir o chuveiro só pra fingir que está tomando banho em vez de estar fazendo o número dois.

O fato é que deveríamos deixar de lado esses tabus bobos afinal, intimidade é conhecer o outro tão ou até mais profundamente do que ele próprio e isso tem suas consequências. Aliás, sempre suspeitamos que o que as pessoas tanto buscam quando falam que estão procurando um amor é a tal da intimidade. Aquela coisa de querer dividir vontades, revelar segredos, se exibir sem máscara. É aquela vontade de se revelar por inteiro, exibindo suas marcas, cicatrizes, e fragilidades. Só com muita intimidade, conseguimos revelar nossas vontades mais estranhas, nossas taras mais excêntricas, nossas manias mais desconexas. E com isso vem todo o resto. Os gostos do outro. Os cheiros do outro. Os sons do outro. Faz tudo parte desse grande pacote chamado amor, que a gente só atinge quando mergulhamos tão fundo no outro que de repente, palavras como “nojo” ou “vergonha” desaparecem do vocabulário.
E ainda bem que não vivemos num conto de fadas onde a perfeição reina, onde ninguém solta pum, nem faz cocô, nem acorda com gosto de cabo de guarda-chuva na boca.
Porque relações perfeitas só existem nos filmes.  Amor bom de verdade precisa ser de carne, de cheiro, de pele e de osso.
http://www.casalsemvergonha.com.br/2014/05/08/manifesto-por-um-mundo-com-mais-intimidade-e-menos-nojinhos/

#PENSEBEMNISSO

Andreh Carvalho

Nenhum comentário:

Postar um comentário