Não existem posições sexuais. Essa cultura de revista – que fala de sexo tântrico como se fosse sinônimo de Tantra – é a mesma que confunde Kamasutra com 69 posições sexuais pra “apimentar” a relação. Ou seja, não é confiável.
A cultura das “posições sexuais” gerou outros mitos que muita gente até hoje incorpora sem perceber: a ideia das “preliminares” e a noção de que gastamos uma camisinha por noite de sexo.
Vou começar criticando a ilusão das preliminares, depois falo sobre as posições sexuais, proponho um experimento para testar minha hipótese e, por último, explico o erro matemático em relação ao uso de preservativos.
O mito das preliminares
Adoramos as preliminares (especialmente quando vocês começam antes)
O conceito de preliminar supõe que haja um início definido, mas onde o sexo começa? Se ele começa com a penetração, como explicar um orgasmo pelo sexo oral? Se ele começa na boca, como explicar que a excitação aconteça apenas com um olhar ou um SMS?
Como já disse, beijo e sexo são coisas que não existem:
“Você pode passar a noite toda a setenta ou a dois centímetros de distância. Você pode colocar sua língua dentro da boca dela. Você pode tirar a roupa ou não tirar nada. Pode fazer sexo anal ou apenas massageá-la. O que importa é que você se relaciona com ela. Em vez beijo e sexo, há incontáveis modos de relacionamento, interfaces de contato, profundidades de toque.
Pegá-la no colo, beijá-la na boca, bater na cara, conversar, massagear, fazer um 69 em pé, penetrá-la por trás, acariciá-la, respirá-la, lamber seu suor, escrever para ela… É tudo a mesma coisa! Se colocar fronteiras entre olhar, conversar, tocar, beijar e transar, vai ter de ultrapassá-las uma a uma, de modo previsível. Se não enxergar fronteiras, nem ela nem você vai entender como foram parar nessa posição exótica no chão da sala.”
É possível até – e sabemos bem disso – existir penetração sem que a mulher se sinta desejada. É possível que ela se sinta mais penetrada por um olhar de um estranho do que pelo membro de seu namorado. Onde exatamente começa a penetração, o desejo, o prazer, o sexo?
Ao ignorar tal visão mais ampla e detalhada, muitos homens estão se formando pela cultura de sexo de revista, que enquadra o sexo no seguinte modelo:
Beijo –> Preliminares –> Penetração –> Orgasmo
E então surge o mito de que todo homem quer pular logo as preliminares. Mentira. Quem de nós não gosta de chupá-las ou de ser presenteado por um longo boquete?
Além disso, esse modelo cria obstáculos no momento da conquista, pois o homem se esquece de que a penetração pode começar à distância, de que muito do gozo feminino vem da sensação de ser invadida, rendida e desejada furiosamente – e enfiar uma extensão de nosso corpo é apenas um dos modos de fazer isso acontecer.
Quantas vezes a única penetração que acontece é a genital?
Sexo sem posições sexuais
A ex-bailarina Toni Bentley, no excelente A Entrega, diz que seus parceiros metiam entrando e saindo, mas teve um homem inesquecível que trepava como se estivesse indo a algum lugar – e levando-a junto, claro.
Alguns homens ainda pensam que o sexo acontece por meio de posições sexuais. Ela de quatro, entra e sai, entra e sai; ela em cima, entra e sai mais um pouco; ambos em pé, entra e sai… Para exemplificar o extremo disso, cito uma reclamação feminina que recebi por email:
“Ele chegou ao ponto de parar e me perguntar qual posição eu queria… Eu querendo me soltar e ele pedindo pra eu decidir qual a próxima posição? Sei lá! Me pega, me joga, não pergunta… Se eu não gostar, pode ficar tranquilo que vou falar. Enfim, brochei na hora.”
É fácil desconstruir as posições sexuais. Basta fazer sexo e abrir o olho. Com movimentos fluidos e incessantes, é impossível definir fronteiras: “Aqui estamos nessa posição, agora passamos para outra”. Não. Uma perna que muda do nada, um joelho que dobra mais um pouco, você se estica para lamber os dedos daquele pezinho, ela entorta a coluna pra trás, você pega no pescoço… Onde mesmo estão as posições sexuais?
As posições deveriam ser nomeadas de acordo com a visão das possibilidades de toque que ambos ganham durante certo movimento: se dá pra ver a bunda, beijar, olhar nos olhos, chupar os dedos, enfiar os dedos, puxar o cabelo, se a curva da bunda fica mais ou menos acentuada, se o vaivém pode ser mais acelerado, o que fica escondido, o que é imaginado…
O ângulo e a profundidade da penetração, tão enfatizados por aí, é o que menos importa.
É tudo uma questão de olhar, ângulo do pescoço, perspectiva, boca aberta, curvaturas, fios de cabelo, ocultamentos… (via Ffffound!)
Experimento: como emendar as posições sexuais
Em vez de ficar trocando de posição, podemos fazer um experimento e ver quanto tempo conseguimos ficar sem tirar. Emendar as posições sexuais é um meio hábil para desconstrui-las e descobrir que é possível transar com direcionamento, como se você estivesse levando sua mulher para algum lugar, não só entrando, saindo e esperando pelo orgasmo.
As pequenas pausas são normais, mas às vezes é interessante continuar sem interrupção alguma. Mais ainda: às vezes é impossível tirar, especialmente quando nos transformarmos em um animal viciado, insano, que não tira mesmo quando vai de uma posição a outra.
Sexo é uma brincadeira hipervalorizada. Em vez de se preocupar em fazer as 69 posições sexuais da revista, sinta como os corpos se chocam, como ambos caem, como as curvas dela variam e como aquela bunda vira 69 bundas, de acordo com o encaixe e com o ângulo de sua visão.
O segredo para emendar é meter com o corpo todo. Um bom movimento de quadril é essencial, porém o que importa mesmo é pressionar o corpo todo contra o dela e se relacionar com ela por inteiro, não só com partes. Seu corpo e seu olhar devem envolver as mãos, as orelhas, o pescoço, o cabelo… É isso que faz uma mulher se sentir penetrada, é isso que nos deixa potentes e despertos, não apenas o que rola entre os órgãos sexuais.
Facilita se você for capaz de pegá-la no colo (se é comum levá-la pra cama nos seus braços) e se ela for mais baixa que você. Algumas posições são inviáveis se ela for mais alta.
Vamos lá… Partindo do “papai e mamãe”, vamos voltar à mesma posição, sem tirar em nenhum momento.
Leia isso não como um manual, mas como uma prova de que é possível emendar uma posição na outra. Sabendo disso, durante o sexo, esqueça as posições e apenas se relacione 100% com sua mulher. Você vai descobrir posições que nunca viu em revista alguma e depois vai ver que é quase impossível descrevê-las, algo que percebi ao escrever as seguintes linhas.
Faz sentido falar em “posições de beijo”? O mesmo vale para o sexo.
Sexo em 10 atos. Sem tirar.
1. Você deitado por cima, se apoiando nos cotovelos, ela de costas com as pernas abertas. Nesse encaixe, uma opção é a famosa “subidinha” (se deslocar um pouco pra frente, com sua cabeça ultrapassando a cabeça dela horizontalmente na cama), que aumenta o prazer de muitas mulheres.
2. Sem tirar, distancie seu tronco, fique de joelhos com as costas perpendiculares à cama, levante as pernas dela (com mãos ou braços), mantendo-as abertas, até que o quadril e as costas dela fiquem suspensas (cabeça na cama, pernas para o ar). Enquanto mete, puxe o corpo dela contra o seu. Se quiser, junte as pernas dela, pés nos seus ombros, e fique de pé com ela quase de ponta cabeça.
3. Deixe o quadril cair de novo, mantenha as pernas dela juntas (pés na altura dos seus ombros). Vá pra cima como se fosse deitar de bruços, com as pernas dela no meio de vocês, e vire ambos pro seu lado direito. De lado, um de frente pro outro, com as pernas dela fechadas no meio, passando pelo seu peito: essa é uma das melhores posições pra meter insanamente, já que você pode puxá-la pelos ombros e também jogar o quadril dela contra o seu, aumentando muito a velocidade do embate.
4. Volte para cima dela, fique de joelhos, pegue as duas pernas e coloque-as de lado (esquerdo ou direito, tanto faz). Você continua de joelhos, mas ela fica com o quadril e as pernas juntinhas jogadas para um lado – uma das melhores cenas, pra mim.
5. E então você mete tudo e se move para o lado, sempre pressionando o corpo contra o dela, o que garante a penetração ininterrupta. De lado, um de costas para o outro, explore tudo: enquanto mete, puxe o cabelo, pegue forte no pescoço dela (como se fosse enforcar), vire pra olhá-la fixamente nos olhos, bata na cara, nos peitos, na bunda.
A perna esquerda à frente da direita faz toda a diferença. É por isso que as posições sexuais são infinitas e indefiníveis.
6. Enquanto pressiona seu corpo inteiro, empurre-a pra baixo, rosto contra a cama e se mova pra cima dela. Sem tirar, você rapidamente ficará em cima. Ela de bruço com as pernas bem estiradas e fechadas, você penetrando por trás.
7. Depois de se divertir nessa posição de total controle, agarre-a e vire 180º até ambos ficarem de costas, ela estirada em cima. Aí você pode brincar nessa posição ou, se ficar desconfortável, empurrá-la pelas costas até que ela sente de costas pra você.
8. O ideal é que isso aconteça na beirada da cama. Eu, particularmente, gosto que ela fique sentada de pernas bem fechadas enquanto eu fico com os pés no chão, deitado na cama ou sentado.
9. Segure-a sentada em você e levante. Ambos em pé, meta por trás. Pra facilitar, pegue ambos os braços dela segurando quase no ombro, de modo que os braços fiquem retos e entrelaçados (a mão dela fica na região do seu tríceps, os braços bem pra trás e os seus à frente). Desse modo, ela consegue ir à frente com o tronco reto sem precisar de uma parede de apoio. E você a puxa inteira contra você enquanto mete, o que dá um bom impacto e uma boa velocidade. Essa, por exemplo, é uma posição que nunca vi em nenhum manual de posições sexuais.
10. Empurre-a para a cama, volte para o encaixe 5, depois 4, de lado, depois 3, depois 1.
Você em cima de tudo quanto é jeito, ambos de lado de frente, depois de costas, ela em cima, ela de quatro… Tudo sem tirar e sem nenhum movimento radical. Nada especial, apenas um sexo contínuo, sem posições definidas.
Fim da primeira sessão: vale tirar apenas pra beber água
Uma camisinha por noite? Tem certeza?
Em cenas de filmes ou no imaginário coletivo, às vezes permanece a ideia de que basta uma camisinha por noite, como se o cara penetrasse até gozar, sem nunca cansar e parar um pouco para descansar, beijar, conversar, chupar ou ser chupado, beber água, fazer ou receber uma massagem…
Se o homem não for vítima de ejaculação precoce, se o sexo se prolongar um pouco, é impossível usar apenas uma camisinha.
Experimente emendar algumas posições e meter com fúria. Em algum momento, você vai cansar, amolecer e precisar parar – adeus à primeira camisinha. Um pouco de diversão depois, a gaveta se abre, uma embalagem cai no chão e mais uma sessão de sexo irrestrito.
Suadeira total, cama rangendo, cabelo pingando, lençol em um estado deplorável, você dá mais um tempo e abandona outra camisinha pelo chão. Depois de mais um pouco de sexo sem penetração, a gaveta se abre novamente…
por Gustavo Gitti
kkk
Beijos amores, e obrigado por tudo!
Andreh Carvalho
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