domingo, 14 de outubro de 2012

'Léo Santana - O rei do rebolation'

“Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada, ou quase nada”, questionava Tom Jobim na música Samba de Uma Nota Só. E completava: “Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada, não deu em nada”. A melodia, com longa série de notas tocadas genialmente em um mesmo tom, no inconfundível ritmo da bossa nova, levou o LP Jazz Samba, de 1962, a arrebatar o Grammy e atingir o topo da parada da Billboard no ano seguinte. Passado exato meio século, a história do samba parece ter cumprido trajetória semelhante à da letra de Newton Mendonça musicada pelo maestro soberano. 
O gênero percorreu toda a escala em versões que deram origem aos sambas de choro, canção, breque, exaltação, gafieira, momo. Por fim, culminou no pagode baiano, que ironicamente cativou o gosto popular nos últimos anos às custas de um hit de uma palavra só, ou quase só: rebolation. 
Nascido nas raves de psy trance do Brasil, o estilo ganhou ginga com a música eletrônica e acabou em samba na voz de Léo Santana, do Parangolé. Em pouco tempo, virou febre nacional, a ponto de Neymar comemorar gol com a dança; a atriz norte-americana Miley Cyrus (eterna Hannah Montana) arriscar o passo e até Dilma Rousseff botar a mão na cabeça e prometer que dançaria o rebolation em cadeia nacional se vencesse a eleição à Presidência da República, só para mostrar que também tem ‘jogo de cintura’. E que atire a primeira pedra quem nunca se deixou envolver pelo ritmo contagiante “que fala tanto e não diz nada, ou quase nada”.
A justificativa para tanto sucesso estaria na mistura de musicalidade com um apelo sexual – para mulheres e gays – que não se via nos palcos baianos desde o sucesso de Xanddy no Harmonia do Samba. Com vocês, Léo Santana, o garoto que seduziu o Brasil sem perder o rebolado, ou melhor, rebolation.
RECORDE
“Bota a mão na cabeça que vai começar...” A frase dá o start para um fenômeno que chegou a entrar para o Guinness, o Livro dos Recordes, com a curiosa façanha de levar mais de 100 mil pessoas a balançar os quadris frenética e sincronizadamente. No comando, um garoto, então de 22 anos, hipnotiza a plateia soteropolitana em meio a gritos de ‘gostoso’, ‘negro lindo’ e ‘já ganhou’. 
Também, pudera: com 1,99 metro de estatura, 107 quilos, bíceps de gladiador – não à toa, um programa de TV sensacionalista segurou audiência tempos atrás anunciando que seus músculos haviam explodido –, feições de moleque e eterno sorriso no rosto, com direito a aparelho ortodôntico, Léo Santana não passaria despercebido nem mesmo se quisesse. E ele, definitivamente, não quer. Humilde, ainda deslumbra-se com o assédio dos fãs e o sucesso repentino que o levou a faturar o Troféu Dodô e Osmar de cantor e banda revelação. “Às vezes, elas exageram um pouco, mas é gostoso. O número de fãs homens também cresceu muito. Já vi vários gays com meu nome tatuado no braço. Eles vendem foto minha nos shows e esperam a gente no hotel para dar autógrafo. Fico feliz com isso. É sinal de que estou agradando a todos.” 
E haja jogo de cintura para não perder o rebolado diante das fãs mais atiradinhas. “No ano passado, ganhamos três troféus e a imprensa toda veio pra cima de mim. Fiquei me sentindo o máximo, atendendo todo mundo e dando um ‘chapéu’ nos seguranças para ficar mais perto da galera. Aí, veio uma fã e mordeu meu peito, achando que eu ia gostar. Falei: ‘Nega, você é maluca!’ e entrei no carro morrendo de dor. Ficou até a marca dos dentes dela”. Em outra ocasião, duas moças o ‘atacaram’ no shopping. “Parecia assalto, véio. Uma me agarrou o pescoço e a outra... é melhor nem falar.”
Nem as crianças escapam do sorriso cativante de Léo, que adora os pequenos. “Eles pegam o meu DVD, me imitam, e é verdadeiro! Sou louco para ter filhos. O negócio é esperar aparecer a mulher, porque tem de ser ‘a’ mulher.” Sim, para histeria geral da nação pagodeira, o vocalista do Parangolé está oficialmente solteiro. E mulheres não faltam para se candidatarem ao posto outrora ocupado pela panicat Nicole Bahls, que fez várias declarações públicas de amor ao baiano. 
No passado, no entanto, essa conta não era tão clara assim. Pelo contrário: Léo chegou a trocar o pandeiro pelo cavaquinho exatamente porque não fazia sucesso nenhum com o mulherio. “Comecei a cantar mais por ciúmes”, confessa. Na época ele contava 13 anos e tocava percussão no grupo de samba de mesa Partido Alto da Vila, todos os sábados, em um barzinho. Mas as mulheres só olhavam para o cantor. “Pensava: Caramba! Por que todo mundo só vai em cima dele? A gente aqui é da banda também.” 
Decidiu, então, soltar o gogó. “Vários amigos me disseram que, se eu quisesse ser cantor, teria de aprender a tocar harmonia (cavaquinho ou teclado). Aí, comprei meu primeiro cavaquinho, que me custou R$ 25, com muito sacrifício.”
E bota sacrifício nisso. Léo se emociona quando lembra da infância em Boa Vista do Lobato, bairro pobre no subúrbio de Salvador, e se orgulha de ter colocado pão em casa ainda na adolescência, com o dinheiro que ganhava cortando cabelos a R$ 2. “Cortava até a domicílio, mas era muito difícil juntar R$ 25 para comprar um cavaquinho. Minha mãe trabalhava, meu pai também, mas não sobrava para essas regalias. Se tirasse daqui ia faltar ali.” Quando conseguiu juntar R$ 10, correu para tentar adquirir o instrumento de corda a prestações. “Insisti tanto que ele acabou me vendendo em duas vezes. Paguei primeiro R$ 15 e depois mais R$ 10. Minha mãe ajudou com R$ 5.” 
O problema do cavaquinho estava resolvido. Mas como tocá-lo? “Ficava na frente de casa até de madrugada, com o dedo cheio de calo, e nada de aprender. Então, comprei uma revistinha para ver onde colocar os dedos. No começo, sofri várias críticas tocando aquele cavaquinho: ‘Cala a boca, menino! Não tá vendo que o senhor quer dormir’. Meu pai também não apoiava. Era muito rude e isso me deixava triste, mas eu nunca desisti.” 
Em pouco tempo, começou a fazer shows na comunidade e correr atrás do sucesso. “Depois de tudo isso, ainda tem gente que vem para mim e diz que foi sorte. Isso me dá uma certa raiva, porque só seria sorte se eu tivesse ficado no sofá esperando acontecer.”
Hoje, o cavaquinho ocupa lugar cativo na casa dos pais de Léo, como se fosse um de seus troféus, e tudo mudou com o público feminino. Com o lema ‘solteiro sim, sozinho nunca’, o garoto que ninguém dava bola no barzinho virou símbolo sexual, e aproveitou a boa fase. “No começo eu era mulherengo. Fiquei eufórico com tanto assédio. Mas depois parei e pensei que não tem por que eu estar assim. Nunca fui de chegar. Nem sei o que falar na hora da paquera. E quando tento, acabo me enrolando todo. Sou mais de olhar, trocar telefone e falar depois”, diz Léo, que faz uma revelação bombástica para quem está em idade de ebulição hormonal: “Não sei ficar com ninguém em balada”.
Sim, mulheres, por trás deste rebolado há um romântico, que sonha em encontrar a cara-metade, casar e ter filhos. “É difícil encontrar uma pessoa que entenda meu trabalho. Sempre falo que quero uma mulher que se identifique com o Leandro e não com o Léo Santana artista. Fora do trabalho sou o Leandro brincalhão, ansioso, insistente, determinado.”
O lado família também fala alto. Filho caçula de Marinalva e do vigilante aposentado Lourival, Léo fala com carinho das irmãs – Naiara e Rejane – e chama os pais de alicerces. “Sempre digo que minha família estando bem, eu fico bem. Trabalho focado neles, em dar moradia para viverem em paz, sem se preocupar com nada.”Enquanto se desvela em cuidados com os entes, no meio artístico Léo tem grandes musas do axé como madrinhas. “Dizem que eu sou o queridinho delas.”
O primeiro momento mais emocionante no palco foi no Carnaval de 2009, quando, já exausto por cumprir percurso de oito horas no trio, recebeu telefonema da produção de Daniela Mercury convidando-o para fazer dueto com a diva baiana em outro circuito do Carnaval, distante dali. “Fui de van, dei canja pra ela, e foi um marco. Depois veio Claudinha (Leitte) e Ivete (Sangalo) várias vezes. Também já dividi palco com Jorge e Mateus. Mando bem no sertanejo”, diz Léo, que tenta sempre se aprimorar em outros gêneros: toca Djavan, Lulu Santos e Ed Motta; tem fotos do ídolo Michael Jackson espalhadas pelo quarto e ainda busca referências no som de rappers norte-americanos como Ne-yo, Usher e Chris Brown. 
No braço esquerdo, uma tatuagem com a inscrição Soul Music não deixa dúvidas quanto à predileção de Léo pela vertente do rhythm and blues e do gospel afro-americano. “Sou fã doente do hip hop e do soul. E também do Xanddy, que é uma pessoa do bem, cantor completo, hoje um amigo. Já ganhei vários prêmios imitando ele lá na comunidade antes de ser do Parangolé.” Rato de internet, aproveita a web para garimpar referências como o rebolation, dança eletrônica que ganhou tempero baiano com o Parangolé e fez a banda estourar no Brasil. “Sou fissurado por internet. Estou sempre procurando novidades.” 
A música foi a primeira criação de Léo, e deu no que deu. De rebolation em rebolation, comprou apartamento em Salvador, casa para os pais, um Chevrolet Captiva branco de R$ 115 mil, centenas de bonés e relógios dourados – duas paixões do cantor –, celulares, correntes de ouro e mostrou-se um cara refinado na hora de comprar roupas e perfumes. “Sou doente por relógios. Tenho Michael Kors, Armani, Dolce e Gabbana... Se vejo um no braço de outra pessoa, quero comprar. Sou vaidoso demais. E gosto de me vestir bem. Mas isso não significa que estou milionário. Trabalho para ter o que gosto e que antes eu não podia ter.”
A aposta, agora, é no CD e DVD ao vivo Todo Mundo Gosta, lançado no fim do ano passado, pela Universal Music, sob a proposta da tendência musical, estética e conceitual do afrofuturismo. No repertório, músicas inéditas como Madeira de Lei, Vai Povão e Treme o Bumbum dividem espaço com as já consagradas Leite Condensado, Balacobaco, Favela e Tchubirabirom. Todas dançantes, com refrões simples, hipnóticos, ‘que não dizem nada, ou quase nada’, mas que transbordam sensualidade e botam os quadris para sacolejar quase que involuntariamente. E alguém ainda duvida que, dentro de duas semanas, uma delas explodirá no Carnaval de Salvador? Pode apostar.
Jogo Rápido
Cantor preferido: Michael Jackson, além do Xanddy, do Harmonia do Samba, e de rappers como Ne-yo, Usher e Chris Brown. 
Sonho: Crescer mais e mais na vida e ajudar meus pais.
Projeto social: Por três anos, fui padrinho de uma lanchonete que ajudava crianças com câncer e Aids.
Música: Rebolation e Essa Sina, do Djavan.
Filme: Ong Bak, de muay thai.
Livro: Inspirações do Dia e os do Fabio Arruda, sobre modos e etiquetas, que ensinam como se comportar e falar.
Perfume: One Million, de Paco Rabanne, além de Jaguar e Carolina Herrera.
Roupa: Sou básico, mas gosto de Armani, Calvin Klein...
Rompante consumista: Quando comprei meu primeiro carro, uma Captiva, da Chevrolet. Só tinha três brancos em Salvador. Pensava: ‘É só você querer que você pode. Mas saiu muito caro: R$ 115 mil, em várias prestações.
Cor: Branco me veste bem.
Superstição: Rezar antes e depois do show.
O que admira em outra pessoa: Caráter, e que seja sincera.
Destino preferido: Gostei de fazer shows em Nova York e Milão.
http://www.diaadiarevista.com.br/Noticia/7981/o-rei-do-rebolation/
Esse é meu rei!
#adoro
Andreh Carvalho

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