quarta-feira, 10 de abril de 2013

Jean Wyllys conta sobre as calúnias de que vem sendo acusado e o silêncio de Dilma sobre Feliciano


O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) desponta como um dos principais opositores da permanência de Marco Feliciano (PSC-SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, tendo, entre suas pautas, reconhecer o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.
Em entrevista exclusiva ao Virgula Famosos, o deputado fala sobre a atual perseguição que afirma estar sofrendo, o questão  por trás da permanência de Marco Feliciano, o silêncio da presidente Dilma Rousseff, e o atual número de protestos oriundos da internet que estão ocorrendo atualmente.
Confira abaixo a entrevista exclusiva com Jean Wyllys.
Virgula Famosos - Existem boatos que você criticou os cristãos. Você acredita que existe uma campanha difamatória contra você?
Jean Wyllys - A campanha difamatória está em curso. Essa afirmação de que eu chamei os cristãos de doentes, essa calúnia, veio seguida de outra calúnia de que eu teria feito afirmação que Bíblia era uma piada e que por fim uma última calúnia que afirma que eu teria defendido a pedofilia em uma entrevista à rádio CBN. Então, nós temos todos os elementos para pensar em uma campanha orquestrada para gerar ódio nas pessoas laicas, com a história da pedofilia. A CBN negou publicamente que essa entrevista existiu, e eu jamais disse isso. Eu jamais diria isso porque eu não acredito nisso. E mesmo se eu acreditasse, eu jamais diria isso porque sou uma pessoa pública. As pessoas deveriam raciocinar, mas a gente parte da premissa que a histeria de massa precede à razão. Há uma campanha difamatória e, por isso mesmo, eu entrei com uma representação na Procuradoria Geral da República contra os perfis que são os divulgadores das peças caluniosas e pedi a investigação à Polícia Federal para saber de onde partiram as peças caluniosas.
Você acredita que essas difamações se devem a quê?

Essas difamações se intensificaram por conta da defesa que eu venho fazendo da Comissão de Direitos Humanos,  me opondo ao projeto de fundamentalistas religiosos eleitos que estão na Câmara e estão fazendo a tomada e o esvaziamento do sentido da Comissão de Direitos Humanos. A minha oposição não é à pessoa do Marco Feliciano, mas ao que ele representa e à estratégia que está por trás da eleição dele. E eu faço a distinção entre os fundamentalistas religiosos e os demais cristãos. Não estou falando aqui de todos os cristãos, da comunidade cristã que é muito diversa e que, inclusive, está engajada na luta pela defesa da Comissão de Direitos Humanos.

Você acredita que Marco Feliciano sairá da presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias?
Não sei, eu não gosto de fazer futurologia. Eu sou um cara da ação e nós estamos agindo publicamente para que isso aconteça. E não só isso. É preciso recuperar a Comissão de Direitos Humanos. É simbólico que ele saia. Não porque ele seja evangélico, mas por ser um fundamentalista religioso contrário ao direitos humanos e minorias estigmatizadas. E não só contrário, mas colaborando, em todos os seus discursos públicos, para essa estigmatização. É preciso recuperar o equilíbrio na Comissão. Equilíbrio que foi quebrado quando os fundamentalistas ocuparam quase todas as vagas. Uma visão de mundo se impôs à Comissão, e isso é inadmissível.
Quem defende a permanência de Marco Feliciano argumenta que ele foi eleito deputado federal democraticamente e que  sua eleição  para presidência da Câmara obedeceu às regras estipuladas...
A eleição na Câmara dos Deputados é uma fachada. Quem decide quem vai presidir as comissões são as bancadas que já dão um nome para você votar. Não é uma eleição livre em que qualquer um pode se candidatar e os deputados são livres para votar nos representantes. As presidências são definidas por acordos dos partidos que compõe a base aliada. Esse discurso de que ele foi eleito democraticamente tem que ser relativizado. Além disso, quando ele se torna presidente, ele se torna um braço do Estado e o Estado é laico. O Estado tem que se livrar de paixões religiosas e a atuação pública dele fere isso. A gente não está questionando se o PSC deve ou não ficar com a Comissão de Direitos Humanos. A gente está questionando essa pessoa e o que ela representa.
No contexto atual você acha que a presidente Dilma está sendo omissa ou não é papel dela se meter nesse assunto?
Eu vou responder essa pergunta estabelecendo uma comparação. Não é papel do Barack Obama se meter no judiciário dos Estados Unidos. A Suprema Corte está julgando uma ação que pode resultar no casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Entretanto, Barack Obama sabendo da vulnerabilidade dessa questão, veio a publico se colocar a favor. O presidente tem que ter sensibilidade política. Eu não entendo por que a presidenta Dilma tem que ficar calada porque é parte do Poder Executivo e não do Poder Legislativo. Ninguém está pedindo que a autonomia do Legislativo seja ferida, mas que a presidenta se pronuncie e não ignore problemas políticos concretos que se impõem na agenda pública. Porque o silêncio da Dilma ao mesmo tempo é um silêncio eloquente, é um silêncio que diz muito. O silêncio dela mostra o medo, o quanto ela está refém dos fundamentalistas. O quanto ela teme o impacto de uma declaração dela nas eleições de 2014. Ou seja, o silêncio da Dilma é em nome da reeleição de 2014.
Você disse que Dilma teme o poder dos fundamentalistas. A que você deve esse poder deles? O brasileiro está mais moralista?

Eu não acho que o brasileiro está mais moralista porque se o brasileiro estivesse mais moralista, nós não teríamos essa repercussão toda em torno da Comissão de Direitos Humanos, nós não teríamos esse engajamento de artistas. A sociedade não está mais moralista. A questão é: Os fundamentalistas religiosos se tornaram, antes de se tornarem uma força política, uma força econômica e com uma capacidade de difamar seus opositores de uma forma nunca vista antes. Não é que o brasileiro esteja mais moralista, mas a maneira com que os fundamentalistas deturpam essas agendas que é perigoso e acaba afetando o processo eleitoral. Eles mentem, é um elogio à mentira. O problema então é esse. As pessoas têm medo de enfrentar os fundamentalistas porque têm medo de perderem as eleições.

Qual o poder dos protestos, oriundos da internet, que estão ocorrendo atualmente?
É um poder enorme, enorme. Eu lhe pergunto: O que não teria acontecido se as pessoas se calassem? A sociedade se deu conta de que as liberdades individuais estão ameaçadas por conta desse fundamentalismo. Essa sociedade se deu conta de que agora o alvo é a comunidade LGBT, mas no futuro pode ser outra coisa. Pode ser até uma guerra religiosa. Essa sociedade decidiu defender o Estado laico, um Estado sem paixão religiosa, um Estado que defenda a liberdade de crença e de não crença. As pessoas se deram conta, reagiram. Acho que nada mais emblemático dessa reação do que o beijo que a atriz Fernanda Montenegro deu na Camila Amado. As pessoas se afastaram da política, e os fundamentalistas religiosos ocuparam cargos políticos. Se isso não afetasse nossas vidas, tudo bem. Mas nossas vidas são afetadas por leis que eles querem votar e leis que eles não querem votar. Eu não estou dizendo que os fundamentalistas não possam ter representação. O que eu estou dizendo é que esses fundamentalistas não podem impor sua visão de mundo sobre o governo. Eu vou dar só um exemplo: Imagine como seria as políticas de saúde da mulher e a prevenção de DSTs como a Aids sendo regidas por um marco regulatório pautado por essas pessoas?
O deputado Tiririca (PR-SP) recentemente afirmou que não deseja continuar na carreira política porque não dá para aprovar nada na câmara. Como você avalia sua participação política?

Eu discordo do deputado Tiririca. O processo democrático é lento. Eu entrei na Câmara dos Deputados sem nenhuma fantasia de que eu poderia impor leis. Eu entrei com a ideia de que eu discutiria leis, e que diferentes pontos de vista fossem contemplados. Então, eu não tenho nenhum tipo de ansiedade ou de frustração de que não está dando resultado porque não há nenhuma lei nesses quatro anos aprovada, mas há muita política feita.

E  seguem as polêmicas...
Andreh Carvalho

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