Se
o Brasil tivesse que enviar uma representante para discursar na Cúpula dos
Povos, da Rio +20, sobre desigualdades e preconceitos, ela bem que poderia ser Valesca Popozuda. Há
tempos ela prega a autonomia feminina,
o direito de fazer o que bem entender com o próprio corpo e sexualidade, e de
se ter prazer apenas pelo prazer.
Recentemente, ela virou musa gay participando da Parada Gay de São Paulo e está
em vias de contratar uma dançarina transexual para o seu grupo, "A Gaiola
das Popozudas".
Com letras nada ortodoxas, como a que diz que "My pussy é o poder", e
um recado que vai direto ao alvo, Valesca se inspira nas manifestantes da Rio
20+ - aquelas que deixaram os
seios de fora para protestar -,
e dá um basta ao preconceito.
Submissão?
Jamais!
“Tem gente que diz que mostrar o corpo no palco, como eu faço, é também uma
forma de submissão. Mas não estou nem aí. O corpo é meu e faço o que quiser com
ele e com a minha sensualidade. O problema é meu. Ninguém tem nada a ver com
isso. Isso vale para todo mundo: para a mulher, para o gay, para o bi.”
Sacanagem ou
mensagem política?
“Quando comecei a cantar não tinha muita noção de
quem iria atingir. Só comecei a entender que minha música poderia ser usada
como um discurso quando as próprias mulheres chegavam para mim e diziam que o
que eu cantava dava força para eles fazerem o que queriam e que eu falava
muitas coisas que elas tinham vontade de falar. Tenho uma música em que falo
‘Agora sou solteira e ninguém vai me segurar’. É isso! Ninguém tem que mandar
em ninguém, cuidar da vida de ninguém. Elas dizem: sou isso mesmo! Faço o que
quiser e o resto que se f...!”
Valesca por Valesca
“Tem gente que diz que no palco é uma coisa e na
vida real é outra. Eu sou o que eu canto. Seu eu quiser dar, eu dou e ninguém
tem nada a ver com isso. Na minha vida mando eu. Já fui muito criticada. Aliás,
quem não é? Não adianta nada ter medo da opinião alheia. Todo mundo fala mal de
todo mundo. Até do mais certinho.”
Fama de putona?
“Acho que as pessoas têm que conhecer para poder falar do meu trabalho. Mesmo
assim, não esquento. Vão falar de todo mundo. As críticas me abalavam mais no
começo da carreira, mas depois vi que as pessoas que me criticavam não pagavam
minhas contas, nem o colégio do meu filho. Então, não estou nem aí.”
Dificuldades
com o público feminino
“No começo da ‘Gaiola das Popozudas’, as mulheres que iam aos meus shows me
xingavam, me chamavam de piranha e até já chegaram a me tacar latinha de
cerveja. Aos poucos elas foram começando a curtir e vendo que o que eu estava
cantando poderia ser a história de qualquer uma. Que ninguém tem que ser
julgado pelo jeito que exerce sua sexualidade. Hoje 80% do meu público é de
mulher. Conquistei aos pouquinhos. Isso foi o mais importante para mim.”
Família sempre apoiou
“Não conheci meu pai. Minha família sempre foi minha mãe, e ela nunca foi
contra nada do que eu fazia. Comecei dançando e, quando comecei a cantar, ela
curtia todas as letras (risos). Nunca se chocou com nada.”
Valesca na relação homem X mulher
“Sempre fui independente, paguei minhas contas e na relação homem e mulher não
é diferente. Nunca abaixei minha cabeça para homem, nem deixo mandar em mim.
Também nunca deixei ninguém me encostar, nunca dei confiança e se encostar,
bato também.”
Valesca na relação mulher x mulher
“Depois que disse que tinha vontade de ficar com uma mulher, comecei a ser mais
cantada por elas. Mas não quero qualquer mulher. Não quero ficar por ficar. Um
dia vou olhar uma pessoa, vai bater uma coisa e vou ter vontade de beijar
mesmo, encostar língua com língua, tocar. Mas ainda não apareceu nem a mulher,
nem o momento certo. Não é só pela sacanagem, não. Selinho já dou nas minhas
fãs. No fundo, no fundo sou romântica. Não pode ser qualquer uma não.”
Sobre
o aborto
“Pessoalmente, sou contra. Quando engravidei (Valesca é mãe de Pablo, de 13
anos), não foi planejado. Mas nunca me passou pela cabeça tirar. Sempre tive
minha mãe, que é uma guerreira como exemplo, e resolvi encarar também. Mas acho
que toda mulher tem o direito de se informar, de se proteger e precaver.
Camisinha não é só para evitar gravidez não.”
‘I
love gays’
”Eles sempre me admiraram. Tenho mais de 70 fã-clubes e acho que 80% deles são
de gays. Eles me chamam de diva, e o mínimo que eu posso fazer por eles é retribuir
esse carinho. Luto pela causa, para que os gays sejam tratados como iguais, fui
madrinha da Parada Gay de São Paulo e agora quero um transexual para dançar na
‘Gaiola’. Não é marketing, não. É exemplo. Recebi mais de três mil emails de
gente querendo participar das seleções.”
Xô,
preconceito!
“Sonho com o dia que vão parar de rotular as mulheres de puta ou piranha por
causa de sua postura de vida, por causa de um determinado trabalho, como é o
meu caso. Ninguém tem que julgar ninguém por causa do seu corpo. Por que a
mulher que beija dois é piranha e o cara que beija duas é garanhão?”
Eliane
Santos Do Ego, no Rio
Esta é a Valesca Popozuda,
polêmica como e verdadeira,
como só ela mesma sabe ser...
Andreh Carvalho
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