Ei, gostosa! Que pedaço de mau caminho! Ah, se eu fosse homem! Que coxão, glória a Deus. Se você é mulher e já passou em frente a uma construção, provavelmente se familiarizou com os “elogios” que deram início a esse texto. Infelizmente, esse tipo de comentário não vem só dos pedreiros – todo homem tem um pedreiro dentro de si, que é incentivado a ganhar forças desde o tempo em que o menino ainda nem tinha sinais de pentelhos surgindo.
Eu mesmo me lembro de um fato que comprova essa teoria. Tinha 15 anos quando andava com um amigo pela rua e ao ver uma garota passando notei que ele torceu o pescoço e parou para tirar fotografias mentais de cada detalhe da bunda dela. Ele me cutucou espantado do porque eu não me contorci para olhar tamanha comissão traseira. Eu respondi: “prefiro peitos, já olhei o que queria olhar”. Demos risada, mas eu sai com aquilo na minha cabeça: será que sou um tarado sem coração?
Anos mais tarde, eu tive a chance de me sentir do outro lado. Queria vender meu carro e fui numa feira com um amigo e ficamos dentro dele esperando um interessado. Nessa hora pude notar o olhar dos caras que passavam olhando o carro e o preço. O carro para todos eles era apenas um objeto. Eles jamais conseguiriam perceber o apreço que eu tinha por ele ou todas as histórias que já tinha vivido com meu amigo automobilístico. Ele era visto apenas como mais um entre tantos outros, totalmente sem personalidade. E então pude sentir, por alguns instantes, como é a sensação feminina de ser enxergada como um pedaço de carne ambulante pelos homens.
Temos culpa no cartório. Fazemos isso o tempo todo – da caixa do banco, à mãe do nosso melhor amigo (se rolar um decote bem servido), quiçá a nossa mãe (se ela fosse a Solange Frazão). Estamos sempre procurando uma chance de ver alguma mulher pagar peitinho, abaixar de mais o decote, mostrar o cofrinho, cruzar as pernas, abrir as pernas no ônibus, metrô ou coisa do gênero. Muitos vão mais longe e tiram uma casquinha com aquela encoxada básica ou sapecam uma foto com o celular no meio da muvuca do ônibus. Mas o ponto é – o que de fato estamos procurando nessa excitação momentânea de nossa visão?
Com a profissão de psicólogo tive que descondicionar meu olhar, afinal, nenhuma mulher naquela situação de fragilidade gostaria de ser olhada por um profissional com uma cara de tarado à cada movimento delas. Imagine um olhar de ginecologista olhando muitas vaginas por dia. Com exceção das senhoras caidonas e as crianças, pense na quantidade de mulheres interessantes que abrem as pernas para ele por horas à fio. Se ele ficar salivando a cada papanicolau realizado nunca terá retorno das pacientes. As mulheres pagam aquele especialista para olhar para suas vaginas e só isso, sem mão boba ou segunda intenção. Sou um ginecologista da mente e me recondicionei para atender uma mulher acima de tudo como um ser humano.
E tem gente que afirma que toda mulher gosta de ser desejada. Isso é um fato. Mas mesmo quando querem ser desejadas, as mulheres esperaram que as vejamos como um todo. Até porque, peitos e bundas podem ser encontrados em cada esquina. Uma mulher interessante em diversos fatores, não. Os homens podem entender um pouco dessa frustração quando percebem que uma mulher está com eles somente pelo fato de pagarem a conta. Elas os vêem como bolsos ambulantes, assim como os homens as vêem como bundas que fazem parte de um corpo qualquer.
Já ouvi tantas catástrofes emocionais vindas de fisionomias de modelo que comprovei que é possível olhar uma mulher para além dos prazeres sensuais. Isso me ajudou muito a diminuir confusões nos meus relacionamentos amorosos. Quantas vezes a dor de cabeça de uma mulher realmente é só uma dor de cabeça? Quantas vezes você já não dormiu emburrado depois de ouvir isso e sequer questionou se ela estava incomodada com algo? Será que já você olhou para a sua mulher para além da vagina e tentou entendê-la como uma pessoa que precisa de sua ajuda? Imagine se você estivesse com uma dor nas bolas insuportável e ela tentasse chupar você. Totalmente desconfortável. Já conseguiu tentar agir com ela sem desenvolver a estratégia do “vou aguentar ouvir a ladainha dela só para ver se consigo apertar seus mamilos”?
Quando o cara deixa de pensar no seu umbigo (ou no seu pau, melhor dizendo) e consegue dialogar com a mulher com a qual divide a cama num ponto de vista humano, o relacionamento sobre de nível. Não acho que seja simples, fácil, nem me acho um cara especial por conta disso. Não é negar ou reprimir a natureza animal sob pretexto de ser puro ou superior, mas agir com os impulsos sem ser impelido a reagir por eles. É ser capaz de fazer uma escolha, como qualquer instinto que atua em nós.
Para finalizar, deixo um desafio para meus amigos homens – tentem passar 7 dias num jejum instintivo. Treinem seus olhares para ver as mulheres como seres humanos em vez de gostosas ambulantes. Observem as experiências, novas percepções e resultados que vocês terão a partir disso. Depois não esqueçam de nos escrever contando como foi.
Olha aí rapazes, vale refletir antes de qualquer coisa dita, não é?
#achodigno
Andreh Carvalho
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